Wednesday, December 22, 2010

é natal

Outro natal, outro ano que se inicia. Há uma grande diferença entre dizer ano que se inicia e ano que se passou, embora, na teoria, signifiquem o mesmo.  Oano que se passou traz melancolia, já o ano que se inicia traz renovação. Eu, particularmente, fico entre a melancolia e a renovação. Tenho, sempre, esperanças de que o futuro possa trazer aquilo que não sei o que é, mas que desejo muito. Afinal, alguém sabe, no fundo, o que deseja? Corremos todos contra o tempo, na esperança de encontrar a glória no futuro segundo, sem perceber que a sonhada conquista não passa de uma projeção ilusória causada por uma insatisfação mórbida e compulsiva da mente humana. Natal, pra mim, é isso: é olhar o horizonte e agradecer por tudo que tenho e por tudo que tive. É ter a certeza, mesmo que somente por uns poucos dias ao ano, de que cada segundo, por mais sofrido que seja, vale a pena. É olhar para trás com gratidão e olhar para frente com serenidade. A vida, na regra, é uma experiência do ego. Natal é uma experiência da alma. Durante todo o ano, buscamos o que não existe: a satisfação. No natal, existe o que não buscamos: a compreensão.

Thursday, November 11, 2010

o editor

um fotógrafo deve fotografar tudo o que lhe dê vontade; porém, deve mostrar somente aos outros aquilo que é espetacular. um grande fotógrafo é um excelente editor de si mesmo.

Wednesday, November 10, 2010

importância das lentes

aos que começam na fotografia: tão ou mais importante que uma boa máquina é um boa lente. uma boa lente custa, no mínimo, U$ 500,00 + taxas. a canon, por exemplo, tem a mania inexplicável de vender ótimas máquinas em conjunto com lentes de quinta categoria. esqueçam as lentes baratas que vem de brinde com as máquinas. uma máquina excelente com uma lente barata é um desastre. eu costumo gastar mais em lentes que em máquinas fotográficas. outra coisa: as lentes, a princípio, são por toda vida; uma boa máquina dura, em média, cinco anos (me refiro às máquinas digitais que rapidamente estão ultrapassadas e tem muitos componentes eletrônicos que possam dar defeito).

Tuesday, October 19, 2010

apenas um fotógrafo

A questão da arte contemporânea na fotografia é delicada. Muitos fotógrafos acreditam-se obrigados a seguir os atuais conceitos estéticos (ou seja, a ausência de estética) para que o trabalho deles não seja tachado de ultrapassado. Bobagem. Há diversos movimentos que tentam, a qualquer custo, unificar a fotografia com a arte contemporânea, afirmando que a fotografia tradicional morreu. A tradição nunca morre. É inegável que os conceitos atuais produzirão efeitos na estética da fotografia, mas não é preciso abrir mão da base para dizer-se atual. Que cada um faça o seu trabalho, e que o futuro nos mostre onde quem errou e acertou. Ninguém deve sentir-se intimado por movimentos artísticos. Arte é liberdade, não é opressão. Há uma certa chatice arrogante na arte contemporânea: “seja assim, ou você é ultrapassado”. No momento em que um movimento de arte firma bases sólidas de conceitos, formas e contextualização, ele torna-se obsoleto. A arte contemporânea não anda tão contemporânea assim. Mas eu não entendo nada disso. Sou apenas um fotógrafo.

Sunday, September 12, 2010

fotografia é mais que tirar fotos

ir além todos os dias! além, além, além, além, além e além. tentar, refazer. experimentar. ver de novo. ver diferente, deixar de ver, ver como não é. apagar. refazer. dizer que tudo já foi feito na fotografia é o mesmo que dizer que todas as frases já foram ditas. ora, então, vamos nos calar, viver de ouvir. com cada segundo que passa, acredito entender um pouco mais, e, então, me dou conta, de que nunca entenderei o todo, pois um pouco mais é quase nada. mas sigo em frente. nunca me contento. a foto de ontem não mudará o mundo. a de hoje também não, mas, pelo menos, mantém-me ocupado. 

Tuesday, September 07, 2010

igual a todos nós

feliz, quando estou feliz. chateado, quando triste. grato por ser grato. honesto sempre que posso, e quando não posso, no máximo, uma pequena mentira. culpado, quase sempre. inocente, nunca. cego, na regra. indiferente, quando a consciência o exige. vivo, agora. morto, jamais. lúcido em raros instantes. defensivo, quando acuado. agressivo, se acuado em excesso. sonhador sem cura. igual a todos nós.

SP-Arte/Foto 2010

feira de fotografia vem se firmando no calendário das artes do país, atraindo, todos os anos, milhares de fotógrafos, curadores, galeristas, marchands e clientes. a edição de 2010 ocorrerá de 9 a 12 de setembro, no iguatemi de São Paulo. outras informações em www.sp-arte.com/foto/

Revista Itaú Cultural convoca artistas

Fonte: http://www.canalcontemporaneo.art.br

ARTE E POLÍTICA é o tema da próxima edição da revista Continuum Itaú Cultural, edição out / nov 2010

A revista Continuum Itaú Cultural abre suas páginas, através das seções interativas Deadline e Área Livre, para receber trabalhos artísticos, incluindo fotos, ilustrações, contos, crônicas, outras formas de manifestação artística ou trabalhos de reportagens com o tema ARTE E POLÍTICA. Os trabalhos selecionados pela equipe da redação da revista serão publicados na edição impressa nº 28 de outubro-novembro de 2010 e/ou na revista virtual. Tudo é gratuito.

Inscrições:
Até 10 de setembro de 2010 para a revista impressa e até 10 de novembro de 2010 para a versão online da revista.
- Envio de projetos para desenvolver matéria de reportagem(pauta de 01 lauda, 1400 caracteres): até 17 de setembro de 2010.

participecontinuum@itaucultural.org.br.

Tuesday, August 17, 2010

técnica

vez a vez ouço a pérola de que a técnica tornou-se ultrapassada na fotografia, pois a máquina fotográfica “faz tudo sozinha”. mesmo hoje, fotografando profissionalmente há mais de 15 anos, aprendo técnicas novas que aprimoram minhas imagens. deixar uma foto à mercê de um clique automático é limitar um universo de milhares de opções a algumas poucas...

Saturday, August 07, 2010

a arte e o mercado

A arte e o mercado – uma eterna questão. Há artistas que se defendem com unhas e dentes contra algumas regras do mercado de arte, que consideram uma ingerência em seus trabalhos. Penso diferente, e, as vezes, criticam-me por isso. Sou filho da revolução da liberdade. Nasci em 1975, no Rio de Janeiro, e meu primeiro contato com a política foi o movimento das Diretas Já. Ou seja, minha geração nasceu num movimento de libertação, e a energia primordial que formou minha personalidade foi a de que a liberdade é um fluxo inabalável e vencedor. Nasci derrubando uma ditadura, e, em seguida, vi derrubarem o primeiro presidente eleito a assumir o cargo. Sendo livre e acreditando na liberdade, não crio arte para escapar às regras e afagar uma alma aprisionada num sistema opressor, como fizeram os primogênitos da Arte Contemporânea brasileira. Crio arte para relacionar-me com questões pessoais que são frutos de um mundo livre. A arte deixou de ser um refúgio da opressão, para tornar-se uma referência de equilíbrio, um porto onde posso estabelecer livremente algumas regras, sem ser criticado por isso. Resumindo, a liberdade que busco na arte é a liberdade de poder estabelecer regras pessoais, algo que no mundo de hoje é um sacrilégio, onde, no âmbito pessoal, a única regra é não ter regras – tudo se pode e toda nudez é aplaudida. Retornando, portanto, à relação de minha criação com o mercado de arte, sinto a necessidade de estabelecer regras e diálogos com esse braço que compõem, queira-se ou não, uma faceta considerável do cenário artístico. Gosto de conversar com o bicho-papão; preciso, não sei bem porque, relacionar-me com o que muitos consideram o monstro opressor. Compreendo que o Movimento Contemporâneo tenha repulsa ao mercado, uma vez que o movimento buscava na arte a fuga de qualquer ingerência e censura. Eu, porém, nasci num mundo sem censura, e tenho a necessidade, dentro de meu processo criativo, de dialogar com as regras. Dialogar não significa submeter-se; dialogar significa dialogar.

Tuesday, June 22, 2010

salões e prêmios

está aberta a temporada dos prêmios e salões. nada de novo, de novo.

arte e discurso

obra de arte que precisa de discurso não é obra de arte, é pretexto para um bom papo-furado.

Friday, April 30, 2010

a colher de pau

As vezes, quando me dou conta, estou fotografando algo improvável, como uma colher de pau na cozinha. Então me pergunto o por quê daquela foto, mas não faço idéia. Meses depois, quando tiro uma foto importante, me dou conta de que aquela foto começou a compor-se na colher de pau.

Wednesday, April 21, 2010

amor à arte

Artista tornou-se uma singela palavra negativa, pois traz a falsa conotação de fama, glamour e outras futilidades, enquanto é, somente, sinônimo de expressão. Artista é quem vive para expressar-se. Artista é quem considera sua criação acima do retorno; seu pensamento ignora a crítica; sua liberdade impede compromissos financeiros.

Thursday, April 15, 2010

arte contemporânea

Sou da velha guarda e acredito que a arte, antes de mais nada, precisa ter genialidade. Aquele toque impossível de ser copiado (a não ser que seja por outro gênio). A arte contemporânea deve sim abraçar qualquer liberdade de criação e suporte, mas não se pode abrir mão da genialidade. Conceito todo mundo tem: transformar o conceito em arte, são outros quinhentos – só os gênios sabem.

Saturday, April 10, 2010

tempos difíceis

A fotografia está começando a ficar chata no meio das artes! Ninguém mais a aguenta, e com toda razão: afinal, nos últimos 10 anos, surgiram mais fotógrafos-artistas que advogados no mundo. Virou febre; qualquer um que um dia sonhou em ser artista, viu, na fotografia, a possibilidade de compensar a ausência de profundidade, qualidade e talento. Afinal, apertar um botão, todo mundo sabe. Alguns arquitetos, curadores, colecionadores e marchands desinformados ajudaram a inflar essa bolha, pois sugeriram a seus clientes que comprassem fotos de fotógrafos “com um discurso interessante” (dos puxa sacos, com outras palavras). Assim, a fotografia, por ser incompreendida, permitiu que milhares de clientes fossem iludidos. Vi fotos serem vendidas a R$ 10.000,00, embora nada valessem, outras, de grande complexidade, sem qualquer valor de mercado. A fotografia virou a arte do achismo: uns acham, outros compram. Aos poucos, as pessoas acordaram, e vejo anos difíceis para os fotógrafos. A tendência será pausar tudo para avaliar, refletir e filtrar as poucas fotos de valor do montante de abobrinhas.

Sunday, March 21, 2010

a fotografia me acalma

A fotografia me acalma. Não se trata somente do ato de fotografar, mas também do processo de ver e rever minhas imagens. É só isso que importa: mesmo nas piores tormentas, sou capaz de produzir instantes de absoluta paz. E não se trata de uma virtude minha – mas de uma dádiva, um presente do criador. É como se, por um momento, toda confusão no mundo se resumisse a pedalinhos e ao pôr-do-sol na lagoa.

Saturday, March 06, 2010

felicidade

A frase “ele merece ser feliz” ou “eu mereço ser feliz” não poderia ser mais equivocada. A felicidade não é uma recompensa por uma conduta ou por traços de personalidade supostamente benevolentes. O merecimento tem em si o estigma do esforço, e o esforço traz, com toda certeza, recompensas que variam desde a satisfação física ao dinheiro. A felicidade é algo muito além da satisfação – é um estado de graça. A felicidade, geralmente, nos pega desprevenida, transformando um instante despretensioso no melhor momento da vida. Ela é de curta duração, gosta de surpreender e deixa o gostinho de “eu quero mais”.

Monday, March 01, 2010

liberdade

Sugestão de livros

Alguns de meus livros preferidos:

- O conto da ilha desconhecida (Saramago)
- O feitiço da ilha do pavão (João Ubaldo Ribeiro)
- Helena (Machado de Assis)
- Meu pé de laranja lima (José Vasconcelos)
- Os tambores de São Luís (Josué Montello)

Monday, February 08, 2010

trecho do livro "Tem um louco solto na Amazônia"

trecho de meu romance que fala sobre a relação do homem com a fé:

"Naquela noite, Roma refletiu sobre a fé em Deus e sobre as pessoas, ditas religiosas, da cidade. Rezavam diariamente, frequentavam igrejas, sinagogas e outros templos, pediam ajuda nas tormentas. É fácil ter fé em Deus nas sociedades organizadas. O velho de coração defeituoso faz uma delicada cirurgia e, ao receber alta, credita a cura a Deus. A casa pega fogo, chamam-se os bombeiros, todos sobrevivem, e Deus recebe os agradecimentos. A família faminta recebe doação de alimentos, e novamente Deus é louvado na missa. Nas cidades, o homem pede a Deus, mas recorre ao homem. Riu com ironia, o primeiro riso há dias. Queria ver as pessoas rezando na Amazônia. Se Roma fosse picado por uma cobra venenosa, não havia fé capaz de salvá-lo. Caso a onça resolvesse atacá-lo, a melhor das rezas seria também a mais inútil. A sobrevida dependia somente dele. Precisava estar atento aos perigos da mata, encontrar alimento, coletar água e, dentro do possível, manter o rumo em linha reta. Nada de específico para pedir a Deus, somente força, destreza e coragem. Concluiu que, nas sociedades organizadas, os pedidos a Deus eram diversos e variados, enquanto, na selva, resumiam-se basicamente ao reforço às qualidades do homem. Na cidade, Deus transformara-se em uma espécie de amuleto da sorte. Na selva, Deus era o reencontro de Roma com a essência humana."